Jamaica, 30 de julho de 2006. Estrada de asfalto precária na direção Kingston-Port Antonio. Chuva comendo grosso; névoa fininha embaçando a tarde. Dirigindo na mão inglesa, Jose, com seus dreads ajeitados no alto da cabeça por uma faixa com as cores da bandeira do Brasil - presente meu. Do seu lado esquerdo, eu, escutando A black man redemption no CD player. Muito inspirador.
Jose é negro, jovem, impetuoso. Uma japonesa, dessas japonesas fãs de reggae que proliferam em toda a Jamaica, certo dia cruzara o caminho dele e o “pegara” para si. Carregando-o para o Japão, lá teve uma filha com ele, menina linda de pele escura e olhos orientais. Mas Jose não suportou a saudade da terra e, como era de se esperar, voltou. Sem a filha. Não se sabe se a paixão pela mãe continua, mas a que nutre pela menina fica evidente nos livros para estudantes de japonês que devora, querendo se comunicar a contento com a criança.
Nosso carro vai seguindo na tarde nebulosa. Estamos calados, loucos para chegar, e a viagem parece não ter fim. A estrada é sinuosa e estreita, toda margeada por uma vegetação espessa, que a deixa mais misteriosa num dia escuro. De repente, da bruma surge uma van, bem à frente. Custamos a distinguir os rostos dos tripulantes, através do vidro embaçado. São duas japonesas aflitas, perdidas, que, em inglês, pedem informações sobre o trajeto. Jose escancara um sorriso e, sem perguntar de onde são, responde em japonês. As duas se entreolham. Faz-se um momento de silêncio. Uma fração, apenas, mas tempo suficiente para se criar um suspense. A cena parece de filme. Coloco-me no lugar delas: a estrada perigosa e sem uma viv’alma; o tempo cavernoso e elas, sem rumo. De repente, a visão do rasta surgido como uma miragem e - algo realmente improvável - falando no complexo idioma delas, com desembaraço. As japinhas certamente carregam essa conexão Japão-Jamaica, como memória de sua viagem à ilha.
Simultaneamente, gargalhamos, os quatro. Eu, que não captara uma palavra do que fora dito, e eles, que se entenderam em bom japonês. E então os três se põem a conversar animadamente, Jose explicando detalhes sobre o percurso. Mantenho-me recostada no banco, como espectadora, com um risinho de canto de boca. Num dado momento eles se despedem, as meninas acenam pra mim e partem em sentido contrário, rindo com gosto. Rindo muito também, abanamos a mão até nos perdermos de vista.
Jose é negro, jovem, impetuoso. Uma japonesa, dessas japonesas fãs de reggae que proliferam em toda a Jamaica, certo dia cruzara o caminho dele e o “pegara” para si. Carregando-o para o Japão, lá teve uma filha com ele, menina linda de pele escura e olhos orientais. Mas Jose não suportou a saudade da terra e, como era de se esperar, voltou. Sem a filha. Não se sabe se a paixão pela mãe continua, mas a que nutre pela menina fica evidente nos livros para estudantes de japonês que devora, querendo se comunicar a contento com a criança.
Nosso carro vai seguindo na tarde nebulosa. Estamos calados, loucos para chegar, e a viagem parece não ter fim. A estrada é sinuosa e estreita, toda margeada por uma vegetação espessa, que a deixa mais misteriosa num dia escuro. De repente, da bruma surge uma van, bem à frente. Custamos a distinguir os rostos dos tripulantes, através do vidro embaçado. São duas japonesas aflitas, perdidas, que, em inglês, pedem informações sobre o trajeto. Jose escancara um sorriso e, sem perguntar de onde são, responde em japonês. As duas se entreolham. Faz-se um momento de silêncio. Uma fração, apenas, mas tempo suficiente para se criar um suspense. A cena parece de filme. Coloco-me no lugar delas: a estrada perigosa e sem uma viv’alma; o tempo cavernoso e elas, sem rumo. De repente, a visão do rasta surgido como uma miragem e - algo realmente improvável - falando no complexo idioma delas, com desembaraço. As japinhas certamente carregam essa conexão Japão-Jamaica, como memória de sua viagem à ilha.
Simultaneamente, gargalhamos, os quatro. Eu, que não captara uma palavra do que fora dito, e eles, que se entenderam em bom japonês. E então os três se põem a conversar animadamente, Jose explicando detalhes sobre o percurso. Mantenho-me recostada no banco, como espectadora, com um risinho de canto de boca. Num dado momento eles se despedem, as meninas acenam pra mim e partem em sentido contrário, rindo com gosto. Rindo muito também, abanamos a mão até nos perdermos de vista.
Dos quatro, Jose parecia o mais feliz. Conseguira divertir ao mesmo tempo três estrangeiras, chamando a atenção para o seu charme pessoal e a aplicação no idioma. Seu sorriso muito branco era de derreter pedra quando, metros depois, virou a primeira curva, já ao cair da noite.
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