terça-feira, 14 de março de 2017


amortecido

amor
tecido
urdido da urgência
ungida trança
a morte não o alcança
se amortecido
em silêncio descansa
desfaz-se o tecido
não a aliança


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Bob Marley (06-02-45 - 11-05-81)

Enjubados cabelos em desalinho parecem prontos a prestar honraria a linhagens negras das mais remotas, sugerindo, cacho a cacho, um inescrutável dom de se conectar ao infinito. O velho mito da força nos cabelos: como os seus correligionários, ele acredita tê-la ao longo dos fios, enquanto que, para seus admiradores mais místicos, fica difícil chegar a um acordo sobre se a força viria da excepcional musicalidade ou esta como herança de antepassados que conheceram o inferno em vida e, da lendária arte jamaicana de dominar fantasmas, tudo sabem.


Os lábios cheios guardam dentes laminados, de caninos surpreendentes. Afiguram-se tristes, até se abrir num sorriso de singular sinceridade. Quem repara nos olhos nota um brilho permanente, no qual parecem se espelhar aqueles ideais de paz e equidade que, afinal, permeiam sua vida e obra.


O corpo vai permanecer magro ao longo da existência breve, flexível e com fôlego viril. Todo ele se mexe e balança, cabeça-punhos-pernas-tranças-alma, sacudido por um ritmo ao qual o ouvido se ajusta aos poucos, até se deixar tomar pelo vício. (Dança como se pulasse corda, coordenando quadris e ombros, feito elegante palhaço sério: Jump, nyabinghi!) Não se pode reduzir a um ritmo, contudo, aquilo que o faz dançar. Essa música tem apelo universal: melodia inebriante, temática simples e libertária. Sensual como o dono da dança e da voz que a professa... até mesmo quando a letra da canção faz troça do inimigo, defende com ira disfarçada de ironia os direitos humanos ou sugere a necessidade de um levante.


O gestual é sui generis: uma das mãos belisca o ar e se abre, em estrela, apontando para o nada, como se abençoasse a plateia. Desce, encontra a outra, com a qual une a palma e, sem aviso, se demora sobre um olho, o topo da cabeça, a base do nariz. Ele reza cantando. Ou canta como se fizesse uma prece, o que dá na mesma: há uma espécie de oração, e há poesia lírica, na música e em cada um dos passos não-ensaiados.


A voz, de um timbre mais para o agudo, às vezes fanhosa, ora doce, ora estrídula, vibra escandindo as sílabas, numa frequência que se sobressai aos demais instrumentos, levando ao alto a mensagem. Os que o ouvem sem julgamentos, sobretudo se instintivamente se deixam levar pelo ritmo, são dominados por uma embriaguez deliciosa. É para todas as raças, credos e ouvidos, para se ouvir, dançar e cantar junto, sentindo nos ânimos o efeito que provocam, a mensagem e o mensageiro.


O canto do cisne desse meio-negro-meio-branco, emissário autêntico do pan-africanismo, soou há 30 anos, antes que completasse 40. "Trinta e seis anos", disse em entrevista um seu antigo companheiro e professor de canto, "é apenas um décimo de um círculo, no ciclo de 360 graus da vida". Pouquíssimo tempo...mas o suficiente para o nascimento de um mito que o tempo não deixa morrer.


Missão cumprida, o manso leão de juba indócil pega seu trem para Zion, onde piamente acredita poder rever sua gente. Terá alcançado, com a graça de Jah, a terra prometida onde mãos hábeis tamborilam ritmos pacifistas e entrelaçam, umas nas outras, dedos amorosos, as vozes entoando hinos de louvor e eterna união? Pois era o que soprava a alma e tirava do chão os pés de Robert Nesta Marley.


















































quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Só porque mordeu o pescoço errado
agora fica o vampiro por aí
a vagar
apaixonado

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Fast-paced world in great need of fast peace.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Pegue seu ciúme e enfie num lugar onde ninguém veja
Pegue sua mala e suma
Ou assuma
E seja

sábado, 31 de janeiro de 2015

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"Isabelita Péron"

Urgente. Saudades.