quinta-feira, 30 de outubro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Japão-Jamaica

Jamaica, 30 de julho de 2006. Estrada de asfalto precária na direção Kingston-Port Antonio. Chuva comendo grosso; névoa fininha embaçando a tarde. Dirigindo na mão inglesa, Jose, com seus dreads ajeitados no alto da cabeça por uma faixa com as cores da bandeira do Brasil - presente meu. Do seu lado esquerdo, eu, escutando A black man redemption no CD player. Muito inspirador.
Jose é negro, jovem, impetuoso. Uma japonesa, dessas japonesas fãs de reggae que proliferam em toda a Jamaica, certo dia cruzara o caminho dele e o “pegara” para si. Carregando-o para o Japão, lá teve uma filha com ele, menina linda de pele escura e olhos orientais. Mas Jose não suportou a saudade da terra e, como era de se esperar, voltou. Sem a filha. Não se sabe se a paixão pela mãe continua, mas a que nutre pela menina fica evidente nos livros para estudantes de japonês que devora, querendo se comunicar a contento com a criança.
Nosso carro vai seguindo na tarde nebulosa. Estamos calados, loucos para chegar, e a viagem parece não ter fim. A estrada é sinuosa e estreita, toda margeada por uma vegetação espessa, que a deixa mais misteriosa num dia escuro. De repente, da bruma surge uma van, bem à frente. Custamos a distinguir os rostos dos tripulantes, através do vidro embaçado. São duas japonesas aflitas, perdidas, que, em inglês, pedem informações sobre o trajeto. Jose escancara um sorriso e, sem perguntar de onde são, responde em japonês. As duas se entreolham. Faz-se um momento de silêncio. Uma fração, apenas, mas tempo suficiente para se criar um suspense. A cena parece de filme. Coloco-me no lugar delas: a estrada perigosa e sem uma viv’alma; o tempo cavernoso e elas, sem rumo. De repente, a visão do rasta surgido como uma miragem e - algo realmente improvável - falando no complexo idioma delas, com desembaraço. As japinhas certamente carregam essa conexão Japão-Jamaica, como memória de sua viagem à ilha.
Simultaneamente, gargalhamos, os quatro. Eu, que não captara uma palavra do que fora dito, e eles, que se entenderam em bom japonês. E então os três se põem a conversar animadamente, Jose explicando detalhes sobre o percurso. Mantenho-me recostada no banco, como espectadora, com um risinho de canto de boca. Num dado momento eles se despedem, as meninas acenam pra mim e partem em sentido contrário, rindo com gosto. Rindo muito também, abanamos a mão até nos perdermos de vista.
Dos quatro, Jose parecia o mais feliz. Conseguira divertir ao mesmo tempo três estrangeiras, chamando a atenção para o seu charme pessoal e a aplicação no idioma. Seu sorriso muito branco era de derreter pedra quando, metros depois, virou a primeira curva, já ao cair da noite.

sábado, 25 de outubro de 2008

sexta-feira, 24 de outubro de 2008



"espalho os meus rostos/
e finjo que finjo que finjo/
que não sei"
(fotos Paula Duarte)


Um mingau se come pelas beiradas, ensina o dito. Agora imagine encarar um desses: o das almas. Conta a minha mãe que, em criança, a sua avó lhe dizia que a remela nas beiradas dos olhos da gente, pela manhã, era obra das almas. Elas vinham, espalhavam a papa cabalística, sabe-se lá a razão, nos olhos dos vivos, e depois saíam sem que lhes percebessem a presença, que só seria verificada quando aquela coisa pegajosa os impedisse de abrir bem os olhos, ao amanhecer.
Diz a minha mãe que não tinha medo nenhum do tal mingau, porque a avó lhe falava sobre isso num tom jocoso, sempre alegre. (Em compensação, morria de pavor de cemitério, por causa das almas passeando no derredor.)
Mas por que, pelas Almas do Purgatório, se assustava uma criança naquele tempo com essa história macabra? A bisavó não queria assustar, está claro, mas quantas crianças da época não acordaram em pânico ao notar a secreção? Não é possível pensar noutro propósito para se ter espalhado a lenda que não o de inculcar nos pequenos um importante hábito de higiene matinal. Afinal que menino, ao crer em tal horror, se arriscaria a passar o dia com os olhinhos sujos de uma gosma do além?

sábado, 11 de outubro de 2008

De língua

Esse tomate é too much...


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008